quinta-feira, setembro 20, 2012

PARTE ESQUECIDA DO MENSALÃO?

O Estado de S. Paulo, segunda-feira, 1 de agosto de 2005
Carlos Alberto Sardenberg
 
Apareceu um depósito de R$ 400 mil feito pela agência SMPB, de Marcos Valério, na conta da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), que, entre outras atividades, organiza o Fórum Social Mundial de Porto Alegre desde 2001. A entidade imediatamente divulgou nota explicando a origem do dinheiro, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), e o destino, justamente a montagem do fórum deste ano. 
Acrescentou que recebeu outros R$ 100 mil da ECT para organizar a participação brasileira na edição de 2004 do fórum, realizada em Mumbai, na Índia.
 
Tudo, portanto, dentro da lei. A ECT foi patrocinadora oficial e, pela regulamentação vigente, esse tipo de gasto entra na rubrica de publicidade, devendo ser pago por intermédio da agência contratada pela estatal. A SMPB tinha o contrato com os Correios. E, como a Abong se apressou a explicar, não houve nenhum entendimento com Marcos Valério, mas apenas com autoridades públicas.
 
No meio do pesado noticiário dos últimos dias, esse caso passou batido, mesmo porque foi completamente esclarecido.
 
Mas estaria politicamente correto? Na verdade, pode estar aí uma forma paralela de "instrumentalizar" o governo.
 
A Abong afirma que, no total, recebeu cerca de R$ 5 milhões do governo federal, via estatais e órgãos da administração direta, para o fórum deste ano. Além da ECT, foram patrocinadores o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.
 
Ninguém desconhece que o fórum reúne entidades e militantes com clara orientação política de esquerda. A estrela do evento deste ano foi o presidente Hugo Chávez, da Venezuela.
 
A questão é: podem empresas públicas e o governo, com o dinheiro de impostos arrecadados de todos os brasileiros, financiar um movimento que representa o pensamento de apenas parte dos cidadãos? Para o presidente da Abong, Jorge Eduardo Durão, a resposta é claramente sim. Em entrevista à Rádio CBN, disse que o presidente Lula foi eleito com um programa que se aproximava das idéias do Fórum Social.
 
Só isso, na opinião de Durão, autoriza politicamente o governo federal a financiar o evento.
 
Mas, se esse argumento está correto, isso quer dizer que o governo federal poderá financiar um fórum mundial de igrejas evangélicas se, por exemplo, Anthony Garotinho se eleger presidente. Ou financiar um fórum mundial dos proprietários rurais, no caso de o presidente ser militante da União Democrática Ruralista (UDR). Ou um encontro global dos movimentos neoliberais, se o PFL emplacar o governo federal. É claro que não pode.
 
Ao financiar o Fórum Social, o governo federal usou dinheiro público para apoiar um movimento político que representa parte da sociedade. Milhões de brasileiros da outra parte, que pagam seus impostos, foram assim levados a financiar a propaganda de idéias com as quais não concordam.
 
Essa prática se chama instrumentalizar o Estado. E é uma ameaça à  democracia
                                                    

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