segunda-feira, outubro 29, 2012

SOBRE CARLOS MARIGHELLA (MENEZES)

Você pode se chocar com a expressão, canalha, e ela é realmente pesada. Mas o fato é que canalhas também envelhecem, adoecem e morrem. Alguns nem chegam a envelhecer.  Mas a morte de quem quer que seja trás um sentimento curioso: a busca do bem possível, existente na vida de quem morreu.  

Carlos Marighella, por exemplo, eu admiro suas obras poéticas: “Rondó da Liberdade”, “O Pais de Uma Nota Só” e várias que já li! A que eu mais admiro é “Liberdade” que exponho abaixo:

Liberdade

Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.

Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.

Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.

E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome”

São Paulo, Presídio Especial, 1939 

O regime de Vargas era terrível, pior que a ditadura militar de 1964. Mas a mídia não expõe, professores não ensinam.


                                                     

Não há nada que indique e prove mas ele sensibilizou até o saudoso Adoniram Barbosa! Eu particularmente creio que Adoniran pensava em Mariguella quando compôs “O Samba do Arnesto”:

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais
Nós não semos tatu!

No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais

No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta

Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever"
Arnesto

Morte (Bata Branca)

Em uma operação do serviço de inteligência do DOPS, foram detidos Tito e seus amigos de convento (exceto Frei Oswaldo). Frei Fernando de Brito foi obrigado a combinar um encontro com Marighella. Eles tinham um código que auxiliou na operação: "Aqui é o Ernesto, vou à gráfica hoje". O encontro foi marcado na Alameda Casa Branca  número 800  (Jardim Paulista), uma rua próxima ao centro da cidade de São Paulo.

No dia do encontro, havia uma caminhonete com policiais e um automóvel, com supostos namorados (onde Fleury disfarçou-se com Estela Borges Morato, investigadora e o delegado Rubens Tucunduva com outra investigadora), além do fusca com o frei Fernando e Ivo.
Estela Borges Morato não merecia trabalhar com Fleury, um delegado que permite que seu mais competente colaborador tombe, e o próprio saia vivo do episódio não merece nem menção. Estela não resistindo aos ferimentos morre em 7 de novembro de 1969. Foi homenageada por Abreu Sodré.

Ao chegar na Alameda, às 20:00 hs, ele nem teve tempo para pegar sua arma. O tiroteio de cinco minutos foi travado entre os policiais e cerca de treze homens que compunham o esquema de segurança de Marighella. Esse esquema falhou. 
Seu mais eficiente guarda-costas comandante Crioulo (o pernambucano Luiz José da Cunha) , não observou outro ensinamento do Mini-Manual: "O guerrilheiro urbano deve possuir uma grande capacidade de observação, estar muito bem informado de tudo, principalmente dos movimentos do inimigo".

Antes de Marighella, Luiz José da Cunha (Crioulo) percorreu a Alameda Casa Branca, onde estava montado o esquema. Aproximou-se do carro onde Frei Fernando e o ex-Frei Ivo, nas mãos da polícia desde uma semana anterior, esperavam Marighella. "Crioulo" olhou dentro do outro veiculo, ocupado pelo delegado Sérgio Fleury, o outro delegado e duas investigadoras, que pareciam dois inofensivos casais de namorados. Chegou até a alguns metros de onde um grupo de policiais, como operários, fingiam entregar material numa construção. 

Não percebeu nada de anormal e deu o sinal de que tudo estava bem. Marighella então apareceu: moreno, terno claro, camisa branca de riscas azuis, peruca de cabelos castanhos, seu único disfarce. Morreu a investigadora do DOPS que simulava o namoro com o delegado Fleury, Friederich Adolf Rohmann um protético que passava pelo local e Rubens Tucunduva o outro delegado do DOPS ficou ferido gravemente. Morria portanto Carlos Mariguella em 4 de novembro de 1969 dentro de sua capanga, continha uma escova de dente, um aparelho de barbear e duas cápsulas de cianureto, que deveria engolir caso fosse capturado.
                                                     
                                                        

O inicio do artigo vale também para o Falecido delegado Fleury, vou ver se encontro um bem possível em sua biografia.

                                                     
                                                      
                                                      


                                         
                                                      
Fato interessante sobre Carlinhos, não sei se voltou a ser deputado no intervalo para democracia! Juscelino, Jânio e João Goulart. Partido Socialista Brasileiro (PSB) Tem quem goste!



A Grande Cilada 


  • 1978
  • (Lourival dos Santos, Tião Carreiro e Arlindo Rosas)

Tião Carreiro e Paraíso

Malandro de muita arte que roubou a vida inteira.
Parecia homem de Marte lambari da corredeira.
Embrulhou por toda parte a polícia brasileira.
Parecia o Malazarte carregou água em peneira.
Um rato de muita arte sem cair na ratoeira.
Malandro pintou o sete fez ponta de canivete,
Virar bico de chaleira.

Era liso igual quiabo não falhava um truque seu.
Soldado, sargento e cabo na poeira se perdeu.
Pegou gato pelo rabo e como lebre vendeu.
Enganou até o diabo que na frente apareceu.
Era um cascavel dos bravo bote errado nunca deu.
Malvado e desumano embrulhou até cigano,
Que com ele se envolveu.

Na capital de São Paulo o malandro apareceu.
E dando uma de galo a mão no peito bateu.
Para pisar no meu calo quero ver quem que nasceu.
Não vou cair do cavalo rei dos malandro sou eu.
Não pode cair no pialo quem com classe aprendeu.
Os delegado só prende malandro que não entende,
E não foi aluno meu.

Vestido de militar mulher rica consegui.
Hoje vou me casar até o padre vai cair.
Não era flor de cheirar o padre que estava ali.
Você não é militar há tempos te persegui.
Aqui nos pés do altar sua fama vai sumir.
Você é um malandro otário eu também não sou vigário,
Eu sou o delegado Fleury.                                      
        
"arme-se e liberte-se"  
(Armando Silveira Lopes)

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